Quarta-feira, 23 de Abril de 2008
Em 1784 todo o distrito entrava em recessão económica, os portos marítimos estavam abandonados, a actividade piscatória em crise e as grandes somas de dinheiro utilizadas para a abertura da barra haviam-se revelado infrutíferas.
Em 87 deste século a barra volta a fechar, voltando a trazer os mesmos problemas de anos anteriores. Cheias, inundações das zonas baixas do distrito, perda de fauna e flora, proliferação de doenças e aumento da taxa de mortalidade eram alguns dos problemas desta altura.
No ano seguinte é apelado à Rainha D. Maria I para que trate da sua situação mas nem mesmo com os seus esforços o problema é resolvido.
Em 1791 nova tentativa de abrir um novo canal para renovação das águas é efectuada mas mais uma vez sem qualquer resultado. O território tornava-se cada vez mais insalubre e para além das actividades que dependiam directamente do mar estarem quase paradas, também a agricultura estava a entrar em declínio.
No início do século XIX a miséria da população era geral mas, finalmente os poderes políticos decidem tomar acção, encarregando dois engenheiros para os trabalhos a elaborar na zona.
Desta forma o Coronel Reinaldo Oudinot e o Capitão Luís Gomes de Carvalho, abandonam as obras no Douro, elaborando um projecto de abertura e estabilização de uma barra para Aveiro.
Apesar de este ser o projecto mais sério face a este problema da região e, tendo estes dois engenheiros meios mais avançados para a elaboração do projecto, os diversos insucessos anteriores não levantavam a moral da população aveirense.
No início de 1805 o projecto elaborado é aprovado e em Maio deste ano dá-se início às obras que iriam possibilitar a abertura da barra.
Um ano após o início das obras dá-se a primeira tentativa de abertura da barra mas, sem sucesso mas, no ano seguinte uma nova tentativa com mesmo efeito é bem sucedida.
Em Abril de 1808 as obras finalmente acabaram e a barra estava agora aberta e fixada.
As águas finalmente foram escoadas e todos os problemas haviam desaparecido ou assim se pensava.
O porto mais uma vez tinha movimento, as salinas entraram novamente em funcionamento e as zonas baixas de Aveiro estavam uma vez mais secas.
Mas, o tempo não pára e a Ria continua a sofrer mudanças devido ao dinamismo da zona. Apesar de nesta altura se festejar a resolução do problema da abertura da barra não demorou muito até um novo surgir.
Agora, o maior problema é o assoreamento excessivo que, apesar não fechar a barra, atola os canais tornando-os inavegáveis, e não permite a renovação das águas nos extremos dos canais, alterando as propriedades dessas zonas.
Verificam-se já diversos problemas nas zonas com marinas, a chegada por água até à marina de Ovar tem-se tornado cada vez mais complicada com o passar do tempo, mesmo com as dragagens que já foram efectuadas.
Na Costa Nova também começam a notar-se problemas semelhantes. As areias têm-se depositado tanto naquela zona que não só as ilhas têm aumentado o tamanho como também começa a haver uma profundidade insuficiente na zona da marina.
E com isto perguntamo-nos se de facto está a ser realizado algum esforço para “salvar” esta Ria que, como já demonstrou, está intimamente ligada com o prosperar desta região e da qual o seu aproveitamento ainda está muito aquém das suas verdadeiras potencialidades.
Quarta-feira, 9 de Abril de 2008
Aqui postamos pela primeira vez este período a penúltima parte da História da nossa laguna. Esperemos que mais uma vez corresponda com as expectativas criadas pelos nossos seguidores habituais.
Agora é a vez de Aveiro começar a entrar em recessão económica, não tão grande como a de Ovar, pois apesar de o cordão já quase ter separado o oceano da ria, ainda havia tráfego marítimo que sustentava, embora insuficientemente, a economia da região.
Mas o problema vai para lá das trocas comerciais. A falta de renovação das águas tem impacto na fauna e flora da ria.
Sendo este sistema principalmente ocupado por espécies de água salobra a estagnação das águas leva não só à falta de oxigenação da mesma como à diminuição da salinidade.
Apesar de existirem espécies muito resistentes a mudanças do meio nem todas resistem a este tipo de alterações acabando por perecer.
Este facto mais uma vez afecta a nível económico, e evidência disto são as alturas onde o sector da pesca entrou em crise.
Também nesta altura, no início 1757, a barra acaba por fechar, a crise instala-se no distrito.
A água já não é renovada, isto é, não é escoada para o oceano o que leva a uma subida da água desta laguna recém formada, provocando danos nas zonas mais próximas dos canais.
Por outro lado as águas estagnadas vão originando zonas pantanosas que atraem diversos agentes patogénicos, levando a uma maior proliferação de doenças, aumentando a taxa de mortalidade.
De forma a ultrapassar este problema houve várias tentativas para “quebrar” este cordão restabelecendo a ligação com o oceano, de forma a permitir a renovação das águas mas, todas elas se revelaram insuficientes, pois as areias removidas num dia de trabalho eram repostas numa noite.
No Inverno deste ano, aproveitando as fortes correntes que se faziam sentir devido a uma cheia, sob as ordens do capitão-mor de Ílhavo João de Sousa Ribeiro abriu-se um pequeno canal na zona da Vagueira.
Mas, o plano não ficou por aqui, o pequeno canal foi o início de uma nova barra temporária. O facto de ter sido escolhido a época de cheias para este trabalho era para que as fortes correntes que se fazia sentir na ria, alargassem o canal recém aberto, permitindo a criação de uma nova passagem entre o oceano e a Ria.
Este plano foi um grande sucesso e as correntes fizeram mais do que o esperado. A força contida durante quase um ano de enclausura foi a suficiente para não só alargar o canal, como aprofundar o mesmo.
Esta nova barra manteve-se navegável durante 8 anos e chegou a Mira a 1771, mais uma vez o dinamismo da região continuou o seu trabalho de reposição de areias, voltando a formar o cordão litoral.
Seis anos mais tarde uma nova tentativa de abrir uma nova barra falhou e, três anos depois desta última sucedeu-se a uma nova tentativa, também ineficaz. Estas últimas tentativas tinham sido já efectuadas sob a vistoria de engenheiros estrangeiros mas, nem mesmo o seu conhecimento foi o suficiente para resolver o problema.
Segunda-feira, 10 de Março de 2008
E segue-se a quarta parte da história da nossa querida Ria de Aveiro.
O século XVI foi um século marcante para o desenvolvimento da barra.
A deposição de sedimentos não só cria novas ilhas como começa mesmo a assorear os canais, tornando ainda mais difícil o escoamento de águas e detritos.
Este século também foi marcado por diversas cheias, 1526, 1578, 1585 e 1596.
Cheias não seria algo fora do normal de um ponto de visto posterior à época, o assoreamento diminui a capacidade de armazenamento da Ria e as águas já não eram escoadas tão rapidamente. A única coisa que faltava era de uma época de maior pluviosidade, como acontecia nos Invernos dos referidos anos, para que o caudal dos rios que alimentam este sistema aumentasse até que transbordassem.
Mas o problema não fica por aí, maior caudal significa maior quantidade de detritos, que serão depositados no leito da ria, aumentando o assoreamento desta tornando mais fácil a ocorrência de cheias.
Este depósito excessivo de sedimentos alimentou o cordão litoral fazendo com que no final deste século já se encontrasse perto da Vagueira, dificultando ainda mais o acesso aos portos mais a norte.
Uns anos mais, a meados do século XVII, nova época de cheias volta a assolar a região com os mesmos efeitos das cheias anteriores.
Quarta-feira, 5 de Março de 2008
Aqui postamos mais uma parte do nosso trabalho acerca da Ria de Aveiro e a história da sua formação.
O tempo não pára e o assoreamento continua a aumentar. Numa questão de 100 anos a língua de areia atinge o local onde hoje está fixada. As condições que 3 séculos antes tornaram Ovar na zona impulsionadora da região passaram para a zona de Aveiro.
O porto marítimo de Aveiro tem agora mais movimento que nunca e a criação de salinas faz com que Aveiro assista a um crescimento económico exponencial, levando-a à sua época áurea.
Mas, Aveiro acaba por assistir ao mesmo desfecho de Ovar. O cordão litoral começa a tornar a água da região cada vez mais estagnada que impede o escoamento dos detritos provenientes do Vouga.
As correntes marítimas continuam com o seu trabalho, arrastam os detritos provenientes da erosão do litoral norte do país e depositam-nos nesta zona, ao mesmo tempo que orientam o cordão litoral, levando-o em direcção a mira.
Os séculos passam e o fundo oceânico altera-se. No século XV a língua de areia já estava na Costa Nova, dificultando o acesso marítimo ao porto de Aveiro fazendo com que o tráfego marítimo diminuísse um pouco. Ovar nesta altura tinha entrado em recessão económica pois a navegação para a região tornara-se muito difícil e as salinas já não tinham tanta importância económica como na altura.
Plano estratégico para a Ria deverá ser entregue em Junho
O coordenador nacional do Programa Pólis, João Pinto Leite, foi a figura selecionada pelo Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional para liderar um equipa que irá elaborar uma proposta de plano estratégico para a valorização e requalificação da Ria de Aveiro. Este deverá ser entregue ao executivo até Junho.
"O despacho do ministro Francisco Nunes Correia foi ontem publicado em Diário da República, formalizando ainda a participação na equipa de trabalho de Teresa Fidélis, presidente da Comissão Instaladora da Administração da Região Hidrográfica do Centro, e de Ana Neves Lopes, da Parque Expo.
Está igualmente prevista a criação de uma comissão consultiva vocacionada para acompanhar a elaboração do plano. Este órgão será coordenado por Laudemira Ramos, do gabinete de Nunes Correia, que receberá assistência de representantes das três secretarias de Estado do sector (Ambiente, Ordenamento do Território e Cidades e Desenvolvimento Regional), do Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade, do Instituto da Água, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro e das câmaras municipais de Águeda, Albergaria-a-Velha, Aveiro, Estarreja, Ílhavo, Mira, Murtosa, Oliveira do Bairro, Ovar, Sever do Vouga e Vagos. Outras entidades com responsabilidades na área da laguna aveirense poderão igualmente ganhar lugar nesta comissão.
A proposta de plano estratégico deverá estar concluída e ser apresentada a Nunes Correia no prazo de seis meses a contar da data de entrada em vigor do presente despacho, a 7 de Dezembro do ano passado.
Delimitação e caracterização da área a requalificar, definição preliminar das intervenções, quantificação do investimento e formulação de propostas para o seu financiamento (incluindo o recurso ao novo pacote de fundos comunitários e ao autofinanciamento), concepção de solução institucional adequada à implementação do plano e elaboração dos instrumentos legais necessários para o efeito e planeamento físico e financeiro das acções consideradas são as tarefas confiadas à equipa liderada por João Pinto Leite.
O plano estratégico deverá ser «consensualizado entre os diversos agentes» e «servir de guia de actuação à entidade responsável pela sua implementação».
Segundo Nunes Correia, a recuperação da ria de Aveiro insere-se no programa do actual Governo para as zonas costeiras, sujeitas a «uma política integrada e coordenada que favoreça a protecção ambiental e a valorização paisagística, mas que enquadre também a sustentabilidade e a qualificação das actividades económicas que aí se desenvolvem».
O território abrangido pela Ria de Aveiro é «um espaço singular que dispõe de condições excepcionais para suporte de um desenvolvimento económico e turístico sustentável e para se constituir como um pólo de atracção intimamente ligado ao contacto e fruição da natureza».
As suas características físicas «únicas e de grande sensibilidade» requerem que o seu desenvolvimento se submeta a «uma estratégia que articule eficazmente as múltiplas vertentes deste território», nomeadamente o facto de estarem presentes neste espaço numerosas actividades económicas, como a indústria e um porto comercial, simultaneamente com a existência de zonas de importância para a conservação da natureza, inseridas na Rede Natura 2000.
Para o governante, «a operacionalização dessa estratégia só será eficaz se for confiada a uma entidade específica, a criar, com aptidão para promover com dinamismo as acções necessárias». "
".." in http://www.diarioaveiro.pt/main.php?id_page=3527
Segunda-feira, 3 de Março de 2008
As correntes marítimas começam a dar forma a esta língua e, a meados do século X já se torna visível, servindo de paredão à zona costeira de Ovar.
Este facto não só é observável a nível morfológico da região como tem impacto a nível económico. Por esta altura Ovar era dos mais importantes portos comerciais, a língua de areia providenciava uma “mini-marina” estupenda, o que fez com que a sua importância aumentasse.
Por outro lado a água estava agora mais estagnada fazendo com que um dos produtos mais facilmente criados fosse o sal. Para corroborar este facto relatórios de cariz económico da região indicam que Ovar por esta altura vivia uma época áurea, com as suas diversas salinas e o excelente porto.
A língua de areia parece só ter trazido benefícios para a região mas sem o conhecimento de todos os factos é uma falsa conclusão que se podia tirar.
O dinamismo desta zona não pára e o fundo oceânico continua a mudar drasticamente, a deposição de sedimentos do Vouga torna-se maior pois a existência de entraves ao escoamento dos detritos torna mais difícil a sua eliminação. Por sua vez a corrente marítima cria um fluxo de detritos que origina uma deposição orientada, aumentando a língua de areia que se dirige para sul.
Há medida que este cordão aumenta e surge à superfície os detritos são cada vez mais difíceis de eliminar. Grande parte deles já nem sequer é expelido até à zona do cordão e começa a formar ilhas, criando diversos canais ainda hoje observáveis.
Ovar começa a tornar-se numa zona inacessível e perto do século XII grande parte do seu poder económico já está perdido. O cordão litoral encontra-se na zona da Torreira e, com avançado assoreamento da zona começam somente a passar barcos de calado mais reduzido. Por esta altura a produção de sal começa a ser a única fonte de rendimento da zona.
Quarta-feira, 27 de Fevereiro de 2008
Apesar da nossa aparente falta de activide no blog isso não significa que o trabalho foi esquecido. Muito pelo contrário, nestas últimas semanas passámos diversas horas na biblioteca municipal cobertos de livros para apresentarmos a segunda fase do nosso trabalho.
Desta forma revelamos assim a história da Ria que, apesar de completa mas sintetizada, resume as principais fases da sua evolução e das causas e consequências por trás delas.
Assim comecemos:
A Terra é um planeta dinâmico, o que significa que sofre alterações, apesar de lentas e graduais, que vão alterando os seus contornos.
Um dos grandes exemplos desse dinamismo encontra-se no distrito de Aveiro, mais especificamente a estrutura denominada por Ria de Aveiro.
Hoje em dia vemos Aveiro como uma Veneza Portuguesa, uma cidade repleta de canais que se espalham por grande parte da zona mais litoral do distrito, desde Ovar até Mira.
Mas nem sempre foi assim, milhares de anos antes a zona onde a Ria se encontra era uma zona plana que, devido à subida do nível médio da água do mar, foi sendo invadida pelo oceano Atlântico.
Com o passar do tempo a água acaba por alagar a maior parte dessa zona, tornando-a numa zona navegável que, devido à reentrância natural da zona costeira, acaba por formar uma espécie de baía.
A água continua a subir fazendo com que esta zona se torne facilmente navegável levando à criação de portos marítimos que prosperaram muito na altura.
Infelizmente esta subida não tornou somente esta zona mais facilmente navegável.
É de notar que alguns cursos fluviais desaguavam relativamente perto e, a subida do nível da água do mar faz com que estes cursos percam mais cedo a sua “força”, perdendo assim a sua capacidade de transporte de detritos.
Isto aliado às fortes correntes atlânticas que, como têm uma orientação de norte para sul, arrastam mais detritos para este local, tornando esta baía uma zona privilegiada para a deposição de sedimentos de forma orientada.
Apesar de não se ter notado na altura, no início do século X o fundo oceânico da região já tinha sofrido fortes alterações. A deposição de sedimentos do rio Vouga no leito desta baía começa a provocar alterações com grande impacto no futuro e, uma língua de areia, ainda que subaquática, começa a formar-se a norte Ovar.